segunda-feira, 27 de junho de 2011

Atestadite


 
O que leva milhares de pessoas mal intencionadas a um consultório médico de urgência simulando conhecidas patologias de origem profissional?  
Seria o simples desejo de gozar de um dia de folga do enfadonho e rotineiro trabalho sem ser punido? Ou recuperar-se com tranquilidade da ressaca da balada do dia anterior? Ou ainda pior, provocar sua demissão daquele emprego que já passou do período de experiência e assim gozar de quatro meses da mordomia proporcionada pelo seguro desemprego? Alguns simulam com tanta ênfase teatral que preferem permanecer durante horas em observação ou receber doloridas injeções intramusculares a ir trabalhar.  
Profissionais de no mínimo 10 anos de estudos sendo rebaixados a meros atestadores é a rotina nos pronto socorros da grande São Paulo e ainda faz do atendimento àqueles que realmente estão doentes uma espera interminável, já que o sistema de triagem não consegue diferenciar os simuladores e não é permitido negar atendimento de urgência a uma patologia de tratamento ambulatorial.    
Diante dessa infestação tenta-se negar tal beneficio não merecido, mas sempre há insistentes reclamações, súplicas pelo bendito atestado, justificativas como a ilegal recusa da declaração de horas em atendimento por parte do empregador e ainda o pior deles, o argumento de obrigatoriedade brasileira e cômico do “To pagaanu!!”. Diante de tal contexto imagine onde vai parar a paciência e saúde mental do coitado médico depois de 12 horas de atendimento, sem direito a conhecidos benefícios trabalhistas como hora de almoço e pequenos descansos.  
Outra opção bem mais benéfica para a saúde mental do médico seria simplesmente “dar a Cezar o que é de Cezar” e preservar sua paciência, repelir o estresse e ao final do plantão ir embora sereno e tranquilo, porém em contrapartida estaria jogando no lixo seu diploma e junto com ele sua dignidade e seus longos dias de estudo para passar no vestibular e depois na residência médica, também seus esforços em se manter atualizado quanto  aos novos métodos diagnósticos e tratamentos mais modernos e ainda assumindo uma parcela de culpa pelo colápso e falência do sistema previdenciário brasileiro.
Diante deste empasse, eis a questão: dignidade ou paciência?

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